quarta-feira, 25 de junho de 2014

Branco

não há rosas na minha janela quando permaneço deitada, há apenas o velho muro branco desbotado pelas lágrimas de chuva que vez outra resolvem cair, pra molhar o meu
velho porta retrato, e o chão gelado do meu quarto pela manha.
não vejo mais as rosas que um dia eu plantei no meu jardim junto com tantas outras memórias enterradas embalsamadas em papel higiênico barato.
meu jardim virou teias desprezadas de uma aranha enfadada que um dia a gerou com a esperança de criar seus filhos e por a comida na mesa no fim de cada novo dia
falido da sociedade dos homens e dos insetos.
para em uma bela manha, as mesmas gotas de chuva que tiraram o branco do meu muro, destruam a vida que ela teve e molhe o porta retrato dela na singela foto de
 corpo inteiro sua com seus milhões de filhinhos.
ou, que por uma infelicidade qualquer, eu mesma, esquecida do seu trabalho, passe com a mão pela sua casa para que possa voltar a ver minhas rosas.
mas deitada no meu chão gelado e molhado pela mesma chuva da manhã só vejo o meu muro desbotado que me impede até de ver um risco de céu.
branco.
branco.
branco.
minha visão de todos os dias não tem mais cor, porque não me levanto para ver as rosas, prefiro o monocromático dominante do que erguer meu corpo fatigado
pra ver um ou dois botões vermelhos brotando de uma terra insossa alimentados pelo carbono dos meus cadáveres.

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